
A dependência crescente dos celulares transformou hábitos sociais e rotinas de crianças e adolescentes. Nesse contexto, a nomofobia se tornou um fenômeno cada vez mais observado: trata-se do medo ou da ansiedade de ficar sem acesso ao celular. A palavra vem da expressão em inglês no mobile phone phobia e reflete um comportamento que ultrapassa o simples apego ao dispositivo, alcançando níveis capazes de interferir na saúde física, mental e emocional dos jovens.
Estudos recentes mostram que muitos adolescentes consultam o celular dezenas de vezes ao dia, mesmo sem notificações ou necessidade concreta. Essa compulsão está relacionada ao desejo de se manter conectado, de não perder informações ou interações, e ao hábito de buscar validação em redes sociais. Embora o celular seja uma ferramenta útil para comunicação e aprendizado, quando o uso se torna excessivo, o equilíbrio se perde e os prejuízos aparecem.
Sintomas e sinais de alerta
A nomofobia pode ser percebida em diferentes níveis. Entre os sinais mais comuns estão ansiedade quando o celular não está por perto, irritabilidade quando há restrição do uso e compulsão em checar mensagens constantemente. Muitos jovens relatam dificuldade em se concentrar em tarefas simples sem olhar para o aparelho. O excesso de uso noturno é outro fator crítico: a exposição prolongada às telas pode reduzir a produção de melatonina, prejudicar o sono e causar fadiga no dia seguinte.
Sintomas físicos também podem acompanhar o quadro, como dores de cabeça, tensão nos olhos, desconforto nos pulsos e rigidez no pescoço, todos relacionados ao uso contínuo do celular. Em casos mais graves, a nomofobia pode levar ao isolamento social, já que o indivíduo evita situações em que o celular não pode ser usado, como aulas ou encontros familiares.
Relação com a saúde mental
Diversos estudos associam a nomofobia a condições como ansiedade e depressão. O medo de ficar desconectado e a pressão constante por estar disponível nas redes sociais criam um ciclo de dependência. O tempo excessivo de tela, muitas vezes gasto em rolagem sem objetivo claro, pode gerar sensação de vazio e contribuir para a baixa autoestima, especialmente entre adolescentes.
Educadores do Colégio Senemby, em Caieiras (SP), ressaltam que “quando o uso da tecnologia deixa de ser um recurso de aprendizado e passa a causar sofrimento, é hora de intervir e buscar alternativas saudáveis”. A escola, em conjunto com as famílias, pode ajudar os alunos a compreenderem os riscos e a desenvolverem habilidades de autorregulação frente à tecnologia.
O uso indiscriminado do celular também impacta nas relações pessoais. Crianças e adolescentes podem preferir interações virtuais em detrimento das presenciais, reduzindo a qualidade das relações familiares e a capacidade de manter conversas olho no olho. Esse afastamento prejudica habilidades sociais fundamentais para a vida adulta.
Consequências no ambiente escolar
A nomofobia interfere diretamente na rotina escolar. Alunos que apresentam esse comportamento podem ter dificuldade em manter a atenção durante as aulas, perder informações importantes explicadas pelo professor e apresentar queda no rendimento acadêmico. Há casos em que o celular é utilizado de forma escondida durante atividades, comprometendo não apenas a aprendizagem, mas também a disciplina e a interação em grupo.
Além disso, a sonolência diurna provocada por noites mal dormidas, muitas vezes relacionadas ao uso excessivo do celular, afeta a disposição em sala de aula. Isso pode gerar frustração nos estudantes e levar a um ciclo de desmotivação.
Educadores do Colégio Senemby destacam que “um dos papéis da escola é orientar para o uso consciente da tecnologia, promovendo um equilíbrio entre os recursos digitais e as interações humanas”. Esse equilíbrio é essencial para que a tecnologia seja uma aliada do conhecimento, e não um obstáculo.
Estratégias para pais e educadores
Reconhecer a nomofobia é o primeiro passo para enfrentá-la. A partir desse reconhecimento, é importante que pais e educadores construam juntos caminhos para a regulação do uso de celulares. Conversar de forma aberta com crianças e adolescentes sobre os riscos da dependência é uma estratégia inicial, pois ajuda a criar consciência sobre o próprio comportamento.
Estabelecer horários específicos para o uso do celular, evitar o aparelho durante refeições e incentivar períodos de desconexão são medidas práticas que fortalecem a autorregulação. Outra estratégia importante é estimular atividades alternativas, como esportes, leitura e hobbies que não envolvam tecnologia. Quanto mais variadas forem as experiências, menor será a necessidade de recorrer ao celular como única forma de lazer.
No contexto escolar, discutir o uso consciente da tecnologia dentro de projetos educativos ou rodas de conversa ajuda a trazer o tema para perto dos estudantes. Além disso, a definição de regras claras sobre o uso de celulares em sala de aula contribui para reduzir distrações.
Em casos mais graves, em que a dependência já compromete de forma intensa o comportamento e a saúde emocional, pode ser necessária a intervenção de profissionais de saúde, como psicólogos e terapeutas especializados. A terapia cognitivo-comportamental, por exemplo, é uma das abordagens indicadas para tratar vícios em tecnologia, ajudando os jovens a desenvolverem novas formas de lidar com a ansiedade gerada pela desconexão.
O desafio da vida digital
A nomofobia é um reflexo de como a sociedade atual está imersa na tecnologia. Vivemos em um cenário em que o acesso à informação e a comunicação imediata são constantes, mas é preciso saber lidar com esse excesso. O desafio para famílias e escolas é justamente promover uma educação digital responsável, que prepare crianças e adolescentes para usar os recursos tecnológicos de forma consciente, equilibrada e saudável.
O celular é uma ferramenta indispensável, mas não deve ocupar o espaço das relações humanas, do descanso adequado e das experiências de vida fora da tela. A conscientização sobre os riscos da nomofobia e a busca de alternativas equilibradas são caminhos para que os jovens possam usufruir dos benefícios da tecnologia sem perder de vista a importância do convívio social, da saúde mental e da aprendizagem significativa.
Para saber mais sobre a nomofobia, acesse camara.leg.br/radio/programas/977152-nomofobia-o-vicio-ao-celular-o-que-saber-e-como-evitar e exame.com/ciencia/nomofobia-entenda-o-que-e-o-transtorno-e-as-formas-de-minimiza-lo

